Fernand Braudel


“O historiador nunca se evade do tempo da história: o tempo adere ao seu pensamento como a terra à pá do jardineiro.”

Fernand Braudel nasceu em Luméville-en-Ornois que, a partir de 1943 foi incorporado a Gondrecourt-le-Château, no Departamento de Meuse, na França. Seu pai, que era um matemático natural, ajudou-o em seus estudos. Braudel também estudou Latim e um pouco de Grego. Aos 20 anos tornou-se um agrégé em História. Enquanto lecionava em uma escola secundária na Argélia (1923–1932), ficou fascinado pelo mar Mediterrâneo. De 1932 a 1935 lecionou nos Liceus Pasteur, Condorcet e Henri-IV, em Paris, vindo a conhecer Lucien Febvre, o co-fundador da influente revista Annales.

No início do século XX a cidade brasileira de São Paulo, embora enriquecida pelas exportações de café, ainda não possuía uma universidade. Em 1934 o francófilo Júlio de Mesquita Filho convidou o antropólogo Claude Lévi-Strauss e Fernand Braudel para o ajudarem a estabelecer uma. O resultado foi a criação da Universidade de São Paulo, onde Braudel lecionou de 1935 a 1937.  Braudel afirmaria posteriormente que este tempo no Brasil foi “o melhor período de sua vida”. Braudel retornou a Paris em 1937. Tinha então iniciado a pesquisa arquivística em seu doutoramento no Mediterrâneo quando caiu sob a influência da Escola dos Annales por volta de 1938.

Nessa época ingressou na École Pratique des Hautes Études (EPHE) como docente de História. Trabalhou com Lucien Febvre, autor de “Philippe II et la Franche-Comté. Étude d’histoire politique, religieuse et sociale”. (1912), que mais tarde iria ler as primeiras versões da obra magna de Braudel e fornecer-lhe aconselhamento editorial.

Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, em 1939, foi convocado para o serviço militar, e, posteriormente, em 1940, foi feito prisioneiro, pelos alemães. Enquanto prisioneiro de guerra em um campo perto de Lübeck, na Alemanha, Braudel elaborou o seu trabalho “La Méditerranée et le Monde Méditerranéen à l’époque de Philippe II” (“O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrânico à Época de Filipe II”), sem acesso a seus livros ou notas, baseando-se apenas em sua prodigiosa memória e numa biblioteca local.

Braudel tornou-se o líder da segunda geração de historiadores dos Annales após 1945. Em 1947, com Febvre e Charles Morazé, obteve financiamento da Fundação Rockefeller, em Nova York e fundou a prestigiosa Sixième Section, para “Economia e Ciências Sociais” na “École pratique des hautes études”.

Em 1962 Braudel e Gaston Berger usaram a garantia da Fundação Ford e fundos do governo para criar uma nova fundação independente, a “Fondation Maison des Sciences de l’Homme” (FMSH), sediada no edifício de mesmo nome, e que Braudel dirigiu desde 1970 até à sua morte. A FMSH focou as suas atividades em networking internacional para disseminar a abordagem dos Annales pela Europa e pelo mundo. Em 1972 Braudel deixou toda a responsabilidade editorial na revista, embora o seu nome tenha permanecido no cabeçalho.

Em 1962 escreveu uma “História das Civilizações”, como base para um currículo de História, mas a sua rejeição da narrativa tradicional baseada em eventos era arrojada demais para o Ministro Francês da Educação, que a recusou. Uma característica do trabalho de Braudel era sua compaixão para com o sofrimento dos povos marginalizados. Ele observou que muitas das fontes históricas sobreviventes provinham das classes ricas alfabetizadas.

Enfatizou a importância da vida efêmera dos escravos, servos, camponeses e dos pobres urbanos, demonstrando a sua contribuição para a riqueza e o poder dos seus respectivos senhores e das sociedades. O seu trabalho foi muitas vezes ilustrado com representações contemporâneas da vida quotidiana, e raramente com imagens de nobres ou reis.

Em 1949, diante da aposentadoria de Febvre, Braudel foi eleito para o “Collège de France”. Co-fundou o jornal acadêmico “Revue économique”, em 1950. Aposentou-se em 1968. Em 1983 foi eleito para a “Académie française”. 

Publicado na edição 70 da Revista História Catarina, clique aqui para comprar!


Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *